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sexta-feira, 14 de março de 2014

Análise do poema "Quem poluiu" de Camilo Pessanha.

Quem poluiu - Camilo Pessanha

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,
Onde esperei morrer, - meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exíguo os altos girassóis
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?

Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!)
A mesa de eu cear, - tábua tosca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...

Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.

Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais,
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.

O soneto em foco circula em torno de questionamentos que é iniciado pelo vocábulo “Quem”, revelando que o eu poético está à procura de alguém que passou e destruiu, despedaçou o seu viver. O primeiro verso do primeiro quarteto, demonstra um lamentação, construída por meio de elementos de pureza: lençóis, linho que foram marcados por uma poluição. O “lençol” que este sujeito poético se refere, não foi exposto como qualquer lençol, pois este é de linho, elemento nobre, raro, sinônimo de requinte, representando um estado de felicidade consumado por este ser.
Por conseguinte, temos “meus tão castos lençóis”, os lençóis são elevados a “castos” refletindo um tom de algo puro e limpo. O eu poético descreve o tipo de lençol que foi destruído, que não foi qualquer lençol e sim um lençol sem mancha. Observa-se que o “jardim exíguo”, refere-se à vida desse eu poético, que hora usufruía de coisas boas, agradáveis e neste momento vê-se escasso, sem perspectivas, sem rumo.
Desta forma os girassóis relacionam-se com a efemeridade da caminhada vital do sujeito poético, um passado feliz, porém curto como as flores de girassóis. E ainda não bastasse, essa total brutalidade os girassóis apesar de terem vida curta, foram arrancados diminuindo assim o tempo de existência dessa ramagem; e a vida desse eu poético torna-se um corpo decadente, fragmentado, “podado”, como também é o poema. Alguém vai e arranca-os lançando no caminho, ou seja, mostrando o real objetivo disso, pois os lançou no caminho, fazendo referência a algo que está no caminho impedindo a passagem.
Nota-se que o segundo quarteto o sujeito poético continua questionando, porém na segunda estrofe o eu poético vai sugerir e mostrar a forma como se deu essa destruição [...] “que furor cruel e simiesco”. Observa-se também além de nos mostrar a forma como ocorreu essa destruição, também relaciona os objetos que estavam próximos dele quando ocorreu essa impetuosidade, pois descreve a mesa em que ceava, ou seja, o local da ceia é um lugar sagrado, momento de celebração, de alegria de compartilhar, não era qualquer mesa e sim uma mesa feita de tabua tosca de pinho, que nos faz imaginar algo natural, vindo direto da natureza, sem ser lapidada, não polida, grosseira que nos remete a ideia de está pura, no seu estado natural.
O eu poético usa o objeto mesa, como estrutura essencial. Relaciona-se [...] e me espalhou a lenha? E me tornou o vinho; “a lenha” se refere a mesa que ao mesmo tempo se refere a ele, a sua própria vida, que também se encontra espalhado, desestruturado. Pode-se destacar também a representação do vinho, que é a própria vida, faz-se referência ao momento sagrado o qual os cristão relembram a vida e ressurreição de Jesus; percebe-se então que o vinho apresenta uma simbologia na vida do eu poético em que descreve o vinho como doce, fresco, novo, viçoso e a partir dessa destruição que lhe causou toda essa angustia, essa dor existencial, que é comprovada mais a frente, o eu poético revela um sentimento de falta da vida pura, quando possivelmente vivia a pureza da maternidade da infância rural, como é descrito neste segundo quarteto com elementos que comprovam isto.
No primeiro terceto o eu lírico se evade dessa busca pelo “Quem”. Quem poluiu, quem rasgou... E torna-se convicto de seu deterioramento, de sua ruína. Ele usa de códigos precisos no soneto para sugerir o valor do próprio sentimento para expressar sua própria dor, sua condição de vida. O eu lírico primeiro evoca sua “pobre mãe” (símbolo), que não deseja que ela o veja em total destruição, sua ruína, seu findar; pois em uma vida tão regrada e sob medida, preferia ver sua mãe morta, que vê-la assistir a sua ruína.
O símbolo “mãe” sugere a representação da consciência do eu lírico, que cobra seus comportamentos retos e denuncia suas falhas. No verso “... em ruína a casa nova” é notória a consumação dessa vida que se consome tal descontentamento, e destruição de um corpo físico no auge do seu vigor, que se deteriora até extinguir-se a vida.
Ao final desse verso aplicam-se reticências, que vai além da estética do soneto. Essas reticências enfatizam essa ruína, que é algo contínuo em sua infinitude. Comprova-se no verso “Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve” essa desilusão com sua própria vida, se sente como se estivesse em estado de decomposição, a vontade de evadir-se e acabar com todo o sofrimento; que já não se preenche em sua consciência, mas quer refugiar-se até o fim do corpo físico, a vida está se acabando, o brilho deixa de existir na vida do eu lírico.
No segundo terceto pode-se perceber que tal situação (o fato de querer que a mãe não saiba que sua vida está em ruínas, acabando-se, destruindo-se) causando uma frustração, uma aflição, uma melancolia tremenda que causa desespero ao eu poético. Porém, apesar de toda essa situação de calamidade, o eu poético se entrega a essa lamúria.
Evidencia-se pelo conjunto de frases no imperativo negativo “Não venhas mais ao lar”, “Não vagabundes mais”, “Não andes mais à neve”. Tais frases fazem alusões a mãe e um desejo de que a mesma não retorne ao lar a ver essa dor existencial do próprio filho, as reticências marcam a infinitude de todo sofrimento.

CARACTERÍSTICAS DO DECADENTISMO

O título “Quem poluiu” já começa anunciando um mistério, saber quem causou todas essas aflições. Percebe-se que neste soneto, há uma expressividade do eu lírico em demonstrar o seu descontentamento em continuar vivendo “na situação em que ele está”. O soneto é composto por um mistério, tipo do decadentismo; o de querer saber quem lhe causou tantas tristezas, tornando assim uma alma doente, marcado por essa incerteza de quem lhe causou tamanha destruição.

O soneto é composto por elementos da pureza lençóis, linho, castos... Os verbos vão sugerindo dúvidas e um cansaço de alguém que vai se acabando com as marcas do passado. Portanto todos os questionamentos deste soneto expressam a incerteza e desconhecimento desta “alma doente”, todo o soneto é marcado pela dor existencial e pessimismo do eu lírico que não encontra solução para esse sofrimento, é marcado pela musicalidade nos versos e a pontuação expressa o mistério e a ruína continua dessa vida.

Esta análise foi apresentada em grupo, portanto, segue o nome dos acadêmicos que colaboraram juntamente comigo para a realização desse trabalho: DAYANE MARINHO DE SOUSA; GEANE RIBEIRO DE SOUSA TORRES; MARIA FRANCIANE HOLANDA; MAYARA MÁGNA MATOS DOS REIS FREIRE; RAFAEL ARANHA.

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