Quem poluiu - Camilo Pessanha
Quem
poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,
Onde esperei morrer, - meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exíguo os altos girassóis
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?
Onde esperei morrer, - meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exíguo os altos girassóis
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?
Quem
quebrou (que furor cruel e simiesco!)
A mesa de eu cear, - tábua tosca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...
A mesa de eu cear, - tábua tosca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...
Ó minha
pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.
Não
venhas mais ao lar. Não vagabundes mais,
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.
O
soneto em foco circula em torno de questionamentos que é iniciado pelo vocábulo
“Quem”, revelando que o eu poético está à procura de alguém que passou e
destruiu, despedaçou o seu viver. O primeiro verso do primeiro quarteto,
demonstra um lamentação, construída por meio de elementos de pureza: lençóis,
linho que foram marcados por uma poluição. O “lençol” que este sujeito poético
se refere, não foi exposto como qualquer lençol, pois este é de linho, elemento
nobre, raro, sinônimo de requinte, representando um estado de felicidade
consumado por este ser.
Por
conseguinte, temos “meus tão castos lençóis”, os lençóis são elevados a
“castos” refletindo um tom de algo puro e limpo. O eu poético descreve o tipo
de lençol que foi destruído, que não foi qualquer lençol e sim um lençol sem
mancha. Observa-se que o “jardim exíguo”, refere-se à vida desse eu poético,
que hora usufruía de coisas boas, agradáveis e neste momento vê-se escasso, sem
perspectivas, sem rumo.
Desta
forma os girassóis relacionam-se com a efemeridade da caminhada vital do
sujeito poético, um passado feliz, porém curto como as flores de girassóis. E
ainda não bastasse, essa total brutalidade os girassóis apesar de terem vida
curta, foram arrancados diminuindo assim o tempo de existência dessa ramagem; e
a vida desse eu poético torna-se um corpo decadente, fragmentado, “podado”,
como também é o poema. Alguém vai e arranca-os lançando no caminho, ou seja,
mostrando o real objetivo disso, pois os lançou no caminho, fazendo referência
a algo que está no caminho impedindo a passagem.
Nota-se
que o segundo quarteto o sujeito poético continua questionando, porém na
segunda estrofe o eu poético vai sugerir e mostrar a forma como se deu essa
destruição [...] “que furor cruel e simiesco”. Observa-se também além de nos
mostrar a forma como ocorreu essa destruição, também relaciona os objetos que
estavam próximos dele quando ocorreu essa impetuosidade, pois descreve a mesa
em que ceava, ou seja, o local da ceia é um lugar sagrado, momento de
celebração, de alegria de compartilhar, não era qualquer mesa e sim uma mesa
feita de tabua tosca de pinho, que nos faz imaginar algo natural, vindo direto
da natureza, sem ser lapidada, não polida, grosseira que nos remete a ideia de
está pura, no seu estado natural.
O eu
poético usa o objeto mesa, como estrutura essencial. Relaciona-se [...] e me
espalhou a lenha? E me tornou o vinho; “a lenha” se refere a mesa que ao mesmo
tempo se refere a ele, a sua própria vida, que também se encontra espalhado,
desestruturado. Pode-se destacar também a representação do vinho, que é a
própria vida, faz-se referência ao momento sagrado o qual os cristão relembram
a vida e ressurreição de Jesus; percebe-se então que o vinho apresenta uma
simbologia na vida do eu poético em que descreve o vinho como doce, fresco,
novo, viçoso e a partir dessa destruição que lhe causou toda essa angustia,
essa dor existencial, que é comprovada mais a frente, o eu poético revela um
sentimento de falta da vida pura, quando possivelmente vivia a pureza da maternidade
da infância rural, como é descrito neste segundo quarteto com elementos que
comprovam isto.
No
primeiro terceto o eu lírico se evade dessa busca pelo “Quem”. Quem poluiu,
quem rasgou... E torna-se convicto de seu deterioramento, de sua ruína. Ele usa
de códigos precisos no soneto para sugerir o valor do próprio sentimento para
expressar sua própria dor, sua condição de vida. O eu lírico primeiro evoca sua
“pobre mãe” (símbolo), que não deseja que ela o veja em total destruição, sua
ruína, seu findar; pois em uma vida tão regrada e sob medida, preferia ver sua
mãe morta, que vê-la assistir a sua ruína.
O símbolo
“mãe” sugere a representação da consciência do eu lírico, que cobra seus
comportamentos retos e denuncia suas falhas. No verso “... em ruína a casa
nova” é notória a consumação dessa vida que se consome tal descontentamento, e
destruição de um corpo físico no auge do seu vigor, que se deteriora até
extinguir-se a vida.
Ao final
desse verso aplicam-se reticências, que vai além da estética do soneto. Essas
reticências enfatizam essa ruína, que é algo contínuo em sua infinitude.
Comprova-se no verso “Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve” essa
desilusão com sua própria vida, se sente como se estivesse em estado de
decomposição, a vontade de evadir-se e acabar com todo o sofrimento; que já não
se preenche em sua consciência, mas quer refugiar-se até o fim do corpo físico,
a vida está se acabando, o brilho deixa de existir na vida do eu lírico.
No
segundo terceto pode-se perceber que tal situação (o fato de querer que a mãe
não saiba que sua vida está em ruínas, acabando-se, destruindo-se) causando uma
frustração, uma aflição, uma melancolia tremenda que causa desespero ao eu poético.
Porém, apesar de toda essa situação de calamidade, o eu poético se entrega a
essa lamúria.
Evidencia-se
pelo conjunto de frases no imperativo negativo “Não venhas mais ao lar”, “Não
vagabundes mais”, “Não andes mais à neve”. Tais frases fazem alusões a mãe e um
desejo de que a mesma não retorne ao lar a ver essa dor existencial do próprio
filho, as reticências marcam a infinitude de todo sofrimento.
CARACTERÍSTICAS DO DECADENTISMO
O título
“Quem poluiu” já começa anunciando um mistério, saber quem causou todas essas
aflições. Percebe-se que neste soneto, há uma expressividade do eu lírico em
demonstrar o seu descontentamento em continuar vivendo “na situação em que ele
está”. O soneto é composto por um mistério, tipo do decadentismo; o de querer
saber quem lhe causou tantas tristezas, tornando assim uma alma doente, marcado
por essa incerteza de quem lhe causou tamanha destruição.
O soneto
é composto por elementos da pureza lençóis, linho, castos... Os verbos vão
sugerindo dúvidas e um cansaço de alguém que vai se acabando com as marcas do
passado. Portanto todos os questionamentos deste soneto expressam a incerteza e
desconhecimento desta “alma doente”, todo o soneto é marcado pela dor
existencial e pessimismo do eu lírico que não encontra solução para esse
sofrimento, é marcado pela musicalidade nos versos e a pontuação expressa o
mistério e a ruína continua dessa vida.
Esta análise foi apresentada em grupo, portanto, segue o nome dos acadêmicos que colaboraram juntamente comigo para a realização desse trabalho: DAYANE
MARINHO DE SOUSA; GEANE
RIBEIRO DE SOUSA TORRES; MARIA
FRANCIANE HOLANDA; MAYARA
MÁGNA MATOS DOS REIS FREIRE; RAFAEL
ARANHA.
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