Amor de Perdição X Lucíola
– Um olhar de amor ostensivo entre ambas as obras.
Percebe-se
que no Romantismo, o tom que domina é a exaltação do amor, mas também é marcado
pela subjetividade, valorização das emoções, idealismo, individualismo, busca
da liberdade de criação, valorização do passado, entre outros inúmeros.
Em
“Amor de perdição”, obra de Camilo Castelo Branco, retrata-se o amor proibido
entre Simão e Teresa, por conta de razões familiares, havia uma discordância entre
os pais dos personagens, como comprova o seguinte trecho “O magistrado e sua família
eram odiosos ao pai de Teresa, por motivos de litígios, em que Domingos Botelho
lhes deu sentenças contra.” (BRANCO, 2011, p. 40).
Esse
amor nasceu de um olhar reciproco, começou ao se verem pela primeira vez “Simão
e Teresa” na janela. Desde então já estavam presos, já havia uma barreira entre
eles desde o primeiro olhar. Simão era um jovem descomprometido com a vida, era
temperamental e engajado com princípios jacobinistas, já Teresa de Alburquerque
é um exemplo de heroína típica do Romantismo, uma verdadeira “mulher anjo”,
devotada e resoluta em seu amor.
O
casal mantem então em silêncio, o amor, este amor puro e virtuoso, vivido através
da janela, esse amor acaba redimindo os erros e transformando as personalidades
dos personagens. “Este amor era singularmente discreto e cauteloso. Viram-se e
falaram-se três meses, sem darem rebate à vizinhança, e nem sequer suspeitas às
duas famílias.”
Logo
que esse amor é descoberto pelos pais, começa um longo sofrimento, pois
destinam-se uma separação entre ambos, a única forma vista pela família para
afastá-los. Nota-se que o casal permanece firme diante desse sentimento proibido,
predominando o egocentrismo na parte dos pais e também de Teresa.
O
destino que ambos se prometiam era o mais honesto: ele ia formar-se para poder sustentá-la,
se não tivesse outros recursos; ela esperava que seu velho pai falecesse para,
senhora sua, lhe dar, com o seu coração, o seu grande patrimônio. (BRANCO, 2011
p. 40)
Observa-se
que, Teresa no desejo de ser feliz como seu amado, deseja ate mesmo a morte do
pai, para poder assim desfrutar dos bens que ela herdará com a morte do mesmo.
Em
“Lucíola”, de José de Alencar, o amor proibido entre Lucia e Paulo se dá pela própria
sociedade preconceituosa e pela própria consciência da protagonista, que acaba
se afastando dessa realização plena do amor.
Lúcia
se sente indigna de se unir a Paulo e até mesmo de dá à luz ao filho seu, em
uma leitura desapercebida, alguém pode classificar como uma ruína de um
sentimento verdadeiro, o que levaria ao engano.
O
amor, nesta obra, é redentor da alma da protagonista: à medida que ela vai se
afastando da prostituição, vai purificando também o seu corpo. Essa ideia de
purificação representa a subjetividade extrema, pois ela mesma não aceita a
plenitude da sua vida, se acha indigna de um amor verdadeiro.
Um
símbolo de transformação em “Lucíola” é o desvelamento do seu verdadeiro nome
representando a pureza versus pecado,
devido ao conjunto corpo X alma, aceito pelos românticos. A protagonista possui
dois nomes para confirmar tal separação, pois seu corpo é imundo, mas a sua
alma é pura.
Temos
então de um lado um amor correspondido, Lúcia e Paulo, de outro um amor
proibido e desafortunado entre Simão e Teresa. Essa diferença é necessária,
pois as características de cada obra se tornam pontos de conflitos entre uma e
outra.
Fazendo
um paralelo entre as duas obras, pode-se afirmar que há uma realidade social
distinguidora caracterizando o cenário tanto de uma obra como da outra.
Em
“Lucíola”, o romance é narrado em primeira pessoa, assim sendo o narrador
autodiegético , por isso é importante notar o pensamento do narrador sobre os
fatos narrados na obra; em “Amor de perdição” o relato é feito por um narrador
autor, que se posiciona sutilmente com suscetibilidade e concisão para
aproximar o leitor da grande realidade da narrativa.
Teresa
e Simão se colocam contrário às decisões paternas resistindo ate a morte e os obstáculos
sociais, já Lúcia e Paulo possuem a condenação da sociedade e dela própria que
vive o amor em curto espaço de tempo e não desfruta do amor de Paulo,
preferindo morrer a ter um “amor verdadeiro”, dando assim espaço para uma
sociedade de “moral e bons costumes”, em um pensamento arraigado na própria protagonista.
Uma sociedade do segundo Império Brasileiro jamais aceitaria o amor de uma
prostituta com um “homem de bem”.
Nos
dois romances o tema do amor e da morte se fazem presentes tendo um
diferencial, os lugares de destaque do romantismo, que revela exatamente a
temática numa força de imaginação e simplicidade. A morte representa para os
personagens uma forma de escape e redenção.
Texto
de Geane Ribeiro de Sousa Torres, graduanda em Letras/Português pela
Universidade Estadual do Maranhão e atuante como Professora de Língua
Portuguesa e Literatura do Ensino Fundamental II.