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sexta-feira, 17 de julho de 2015

Paralelo entre as obras "Amor de Perdição e Lucíola"

Amor de Perdição X Lucíola – Um olhar de amor ostensivo entre ambas as obras.

Percebe-se que no Romantismo, o tom que domina é a exaltação do amor, mas também é marcado pela subjetividade, valorização das emoções, idealismo, individualismo, busca da liberdade de criação, valorização do passado, entre outros inúmeros.
Em “Amor de perdição”, obra de Camilo Castelo Branco, retrata-se o amor proibido entre Simão e Teresa, por conta de razões familiares, havia uma discordância entre os pais dos personagens, como comprova o seguinte trecho “O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa, por motivos de litígios, em que Domingos Botelho lhes deu sentenças contra.” (BRANCO, 2011, p. 40).
Esse amor nasceu de um olhar reciproco, começou ao se verem pela primeira vez “Simão e Teresa” na janela. Desde então já estavam presos, já havia uma barreira entre eles desde o primeiro olhar. Simão era um jovem descomprometido com a vida, era temperamental e engajado com princípios jacobinistas, já Teresa de Alburquerque é um exemplo de heroína típica do Romantismo, uma verdadeira “mulher anjo”, devotada e resoluta em seu amor.
O casal mantem então em silêncio, o amor, este amor puro e virtuoso, vivido através da janela, esse amor acaba redimindo os erros e transformando as personalidades dos personagens. “Este amor era singularmente discreto e cauteloso. Viram-se e falaram-se três meses, sem darem rebate à vizinhança, e nem sequer suspeitas às duas famílias.”
Logo que esse amor é descoberto pelos pais, começa um longo sofrimento, pois destinam-se uma separação entre ambos, a única forma vista pela família para afastá-los. Nota-se que o casal permanece firme diante desse sentimento proibido, predominando o egocentrismo na parte dos pais e também de Teresa.
O destino que ambos se prometiam era o mais honesto: ele ia formar-se para poder sustentá-la, se não tivesse outros recursos; ela esperava que seu velho pai falecesse para, senhora sua, lhe dar, com o seu coração, o seu grande patrimônio. (BRANCO, 2011 p. 40)
Observa-se que, Teresa no desejo de ser feliz como seu amado, deseja ate mesmo a morte do pai, para poder assim desfrutar dos bens que ela herdará com a morte do mesmo.
Em “Lucíola”, de José de Alencar, o amor proibido entre Lucia e Paulo se dá pela própria sociedade preconceituosa e pela própria consciência da protagonista, que acaba se afastando dessa realização plena do amor.
Lúcia se sente indigna de se unir a Paulo e até mesmo de dá à luz ao filho seu, em uma leitura desapercebida, alguém pode classificar como uma ruína de um sentimento verdadeiro, o que levaria ao engano.
O amor, nesta obra, é redentor da alma da protagonista: à medida que ela vai se afastando da prostituição, vai purificando também o seu corpo. Essa ideia de purificação representa a subjetividade extrema, pois ela mesma não aceita a plenitude da sua vida, se acha indigna de um amor verdadeiro.
Um símbolo de transformação em “Lucíola” é o desvelamento do seu verdadeiro nome representando a pureza versus pecado, devido ao conjunto corpo X alma, aceito pelos românticos. A protagonista possui dois nomes para confirmar tal separação, pois seu corpo é imundo, mas a sua alma é pura.
Temos então de um lado um amor correspondido, Lúcia e Paulo, de outro um amor proibido e desafortunado entre Simão e Teresa. Essa diferença é necessária, pois as características de cada obra se tornam pontos de conflitos entre uma e outra.
Fazendo um paralelo entre as duas obras, pode-se afirmar que há uma realidade social distinguidora caracterizando o cenário tanto de uma obra como da outra.
Em “Lucíola”, o romance é narrado em primeira pessoa, assim sendo o narrador autodiegético , por isso é importante notar o pensamento do narrador sobre os fatos narrados na obra; em “Amor de perdição” o relato é feito por um narrador autor, que se posiciona sutilmente com suscetibilidade e concisão para aproximar o leitor da grande realidade da narrativa.
Teresa e Simão se colocam contrário às decisões paternas resistindo ate a morte e os obstáculos sociais, já Lúcia e Paulo possuem a condenação da sociedade e dela própria que vive o amor em curto espaço de tempo e não desfruta do amor de Paulo, preferindo morrer a ter um “amor verdadeiro”, dando assim espaço para uma sociedade de “moral e bons costumes”, em um pensamento arraigado na própria protagonista. Uma sociedade do segundo Império Brasileiro jamais aceitaria o amor de uma prostituta com um “homem de bem”.
Nos dois romances o tema do amor e da morte se fazem presentes tendo um diferencial, os lugares de destaque do romantismo, que revela exatamente a temática numa força de imaginação e simplicidade. A morte representa para os personagens uma forma de escape e redenção.
Texto de Geane Ribeiro de Sousa Torres, graduanda em Letras/Português pela Universidade Estadual do Maranhão e atuante como Professora de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Fundamental II.



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